quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Vogue.

Eu dormi por mais de doze horas. Minha visão está turva desde que eu acordei e minha cabeça lateja a cada movimento brusco que eu faço. Lá fora, chutando, deve estar uns 15 graus... E vai chover, isso com certeza. Ou já está chovendo, não sei. Não me propus a ir lá fora e nem vou. Mas está friozinho, aquele frio que dá vontade de colocar uma meia ou algo assim. Eu estou pensando no ano passado. No dia em que eu, com o cabelo bem mais curto que isso e muitos, muitos quilos a mais, algumas doenças a menos, sentei acompanhada em um banco de madeira charmosíssimo às margens do oceano Atlântico - à beiramar, cara! - e falamos pouco. Ela tentando acender aquele isqueiro na chuva foi uma das coisas mais adoráveis do mundo. O seu cabelo estava bem sujo, mas o meu também, e eu não me lembro de tê-lo escovado naquela semana. Eu lembro que estava com enxaqueca e cólica e quase não falei nada, e ela beijou minha testa e fez carinho com as unhas no meu cabelo e naquele dia ela decidiu que eu não a amava mais. A última vez que eu o vi foi três meses antes e a última vez que nos falamos foi um mês e quatro dias antes. Ele me abraçou e me beijou na bochecha e sorriu como sempre sorria quando nos despedíamos - triste, mas agradecido por eu estar ali, ao menos - e eu o beijei com os lábios de Rogue 44 e ele me impediu de passar o polegar pela marca. Acho que o motivo pelo qual eu nunca mais me dispus a comprar um batom daqueles é porque me lembraria muito dele; eu sempre o cobria com marcas vermelho-sangue com o shape da minha boca. Quando eu penso em todas as bocas que já cobriram a minha desde a dele, eu não consigo deixar de sentir uma ponta de vergonha, de decepção e de arrependimento. A boca dele foi a melhor, mas provavelmente esse sentimento é só mais uma das minhas fossas mórbidas causadas pela ausência dele. Não que ele não fosse um dos seres mais maravilhosos que eu já vi, claro que não, longe de mim sequer sugerir isso, mas às vezes eu penso que eu não o colocaria nesse pedestal tão alto caso ele não tivesse sido arrancado de mim. Coisas que a morte causa. Ele foi o primeiro que me mostrou, sem querer, que a dor psicológica pode se transformar em física, passando pelos meus braços, cortando minhas veias por dentro, fazendo meu peito pesar mais do que qualquer fêmur ou crânio.

Quando eu penso em todo o tempo que perdi com ela, quando eu poderia estar sendo amada de verdade.
Quando eu penso em todo o tempo que perdi sem ele, quando eu poderia estar sendo amada de verdade.

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