sábado, 22 de fevereiro de 2014

Plesiophrictus tenuipes.

Eu sempre sonhei em chegar no apartamento de alguém de surpresa com um pacote de papel cheio de ingredientes pra um jantar caseiro numa mão e um vinho chileno na outra. Com um sorrisinho travesso, encostada na soleira da porta, às oito e meia da noite, logo antes do boa noite do William Bonner. Não consigo pensar em nada mais charmoso do que uma garota de cabelos castanhos que saiba cozinhar e apareça de surpresa. Se eu pudesse pedir só uma coisa, no entanto, eu acho que seria pra que não me deixasse esperando. Eu sei que o sinal é ruim e o 3g é lerdo, mas não custa me dar um pouquinho de atenção e responder aquela mensagem. Eu sou muito insegura e não lido bem com incerteza. É mais ou menos como naquele dia em que você deixou uma carta de amor na minha mochila com metade das palavras apagadas com caneta permanente preta. Eu não duvidei do seu amor, entende? Mas eu desconfio muito da linguagem. Às vezes eu tenho a impressão de que nós dois nos amamos em idiomas diferentes. Ou no mínimo não com o mesmo alfabeto. De que importa a mais linda declaração romântica se eu não entendo yiddish?

Mas não tem problema, mesmo, porque eu te quero tão bem. E tanto. Hoje eu senti tanto a sua falta que comecei a falar sozinha e a abraçar meu travesseiro, na esperança de ele ainda ter um tantinho do cheiro do seu cabelo. Esperança em vão, mas quando eu fecho os meus olhos com força suficiente eu consigo sentir a sua pele. Me deitei no tapete e passei os dedos pela fibra vermelha por horas ouvindo meus outros homens favoritos, os outros amores da minha vida que vieram antes de você e que me falaram por anos sobre você e como você seria comigo. É difícil imaginar uma vida sem você. Basta ver quantas vezes eu já escrevi "você" nesse curto texto. Minha pele mudou, de porcelana a pérola; meu cheiro agora é de rosas e tabaco e menta e coco; tudo que eu toco é seda. Como se livrar de um som constante vindo de tudo, quando tudo soa como você? E eu queria tanto segurar seu rosto hoje e beijá-lo mil vezes, gastar todo o meu batom no teu rosto, deitar nua ao seu lado numa varanda no inverno até que a superfície dos nossos corpos estivesse coberta por uma fina camada de gelo e nós tilitassemos a cada movimento, brilhando ao sol. Apesar de que toda vez que eu posso escorrer meus dedos por você é como se o inferno nascesse dentro de mim. Todas as minhas cicatrizes contam histórias a seu respeito, mesmo que você não estivesse lá. Tudo em mim conta a história de como eu cheguei até você e como eu me apaixonei por você. E nossa, como eu me apaixonei por você. É pedir demais que eu passe todos os dias com você? É cedo demais pra eu pedir pra ter um posto especial na sua vida? É tarde demais pra voltar atrás e não me deixar levar tanto assim? É ruim que eu esteja tão desesperada? É bom que eu beba de você todos os dias?

Só não me deixe esperando. Isso eu não posso suportar. Eu aguento tudo, menos a incerteza.