domingo, 17 de novembro de 2013

Betraktarens betraktande av betraktarna.

Ela se olha no espelho todos os dias e conta as marcas. Roxinhos vermelhinhos rosinhas aqui ali acolá essa de quinta-feira atrás da porta essa de domingo na cozinha. Ela dormia com dois travesseiros quando o conheceu e vivia com dor nas costas, ele a acostumou a dormir com um travesseiro entre as pernas e agora ela demora menos a dormir e vive com dor nas costas de tanto deitar no peito dele e fingir que vê televisão enquanto na verdade fecha os olhos e fica ouvindo a respiração dele, ouvindo o cheiro dele, ouvindo o peito dele subir e descer, ouvindo a pele dele. O cheiro de café frio já não enjoa mais o cheiro de nicotina dos dedos dele já não se destaca mais o medo do escuro da solidão já não aflinge mais o cansaço do final de tarde já não abate mais. Às vezes até as cores mudam de repente quando ele chega porque os olhos dela mudam perto dele e ele é uma lente um espectro um ar uma inexplicação toda vez que toca nela. Ela sente aquela paz aquela naturalidade aquela serenidade aquela adrenalina aquela paixão pela vida que sempre ouviu falar. Ainda é uma pessoa pequena fútil mimada imatura chorosa queixosa arrogante teimosa, mas quando repousa nos braços dele poderia dar a volta ao mundo, numa bicicleta, sem filtro solar.