quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mamihlapinatapai.

Talvez você nem saiba, mas eu penso em você o tempo todo. Até quando eu não penso em você, eu estou pensando em você, porque de repente eu me toco que não estou pensando em você e... Bem, você entendeu. E lá estou eu, andando na rua, pensando em você. Eu resolvi sair de casa simplesmente pra poder ouvir música sozinha, sabe. Aproveitar que o tempo estava nublado e dava até pra colocar um casaco leve. Minhas mãos estão dentro do casaco, segurando fortemente meu celular, ouvindo qualquer musiquinha melosa que eu gostaria que fosse a nossa trilha sonora. Qualquer música romântica me lembra você, sabia? Mas enfim, você sabe disso. Mesmo fingindo que nem sabe.

E de repente, eu vejo você. Do outro lado da rua, atrás de um carro preto, você está lá. Eu reconheço você de costas, claro. A maioria das vezes que eu pude ficar olhando pra você, de longe, foi quando você estava de costas. Nunca me importei: eu nunca te olhei pra olhar, eu sempre te olhei pra sentir que você estava perto. Sentir que, se eu tivesse a coragem necessária, eu poderia correr e te dar um abraço, um beijo, te contar que eu sou sua desde o primeiro instante. Mas nunca fiz isso. E lá está você, do outro lado da rua, parado. Tento imaginar todos os motivos possíveis pra você estar ali, no meu bairro, do outro lado da rua que eu por acaso estava caminhando. Começo a pensar no tamanho da coincidência que foi eu ter saído de casa no mesmo dia em que você resolveu sair de casa e nós dois irmos parar na mesma rua, ao mesmo tempo. Não é lindo?

E de repente eu sinto meus joelhos tremendo. Meu corpo inteiro treme, na verdade, com a descarga de adrenalina. Susto, surpresa e um tesão absurdos tomaram meu corpo. Sempre foi assim, você sabe. Por isso sempre fiquei idiota na sua presença. Mas as coisas mudaram daquela época pra cá; estamos diferentes agora. Você não é mais o que era pra mim, e eu definitivamente não sou mais o que eu era pra você. Seu cabelo está diferente. Você parece mais magro. Mas as roupas permanecem no mesmo estilo de sempre. Seu jeito de respirar permanece o mesmo - calmo e devagar - e até seu jeito de ficar parado permanece. Você continua sendo o homem por quem eu me apaixonei.

E de repente eu começo a sentir que tomei coragem. Sim. Eu vou atravessar aquela rua. Eu vou andar até você e vou te cumprimentar. Você vai virar pra mim, abrir os seus olhos cremosos de surpresa e vai me dar aquele sorriso que completa meu dia e que eu não vejo há tanto tempo. Você vai me abraçar, claro, talvez eu beije sua bochecha, se meus lábios não estiverem tremendo como de costume. Vamos dizer aquele "Quanto tempo!" corriqueiro e vamos falar, mesmo sem assunto. Vou perguntar como você está, e eu vou prestar atenção a qualquer coisa que você queira dizer, porque eu me importo com você a esse ponto. Você vai rir de alguma coisa, vai me xingar por alguma coisa e eu vou agir como sempre agi: como se você fosse só mais um na minha vida, mesmo sendo o que domina meus pensamentos, dia e noite. Engraçado como eu sou boa em atuar, perto de você. Ainda assim, me sentirei imbecil e fraca e falando as coisas erradas.

E de repente o não-assunto vai acabar e você vai dizer que precisa ir. Eu vou sorrir e dizer que também preciso fazer alguma coisa, mesmo que a única coisa que eu queria fazer era ficar ali, com você, mesmo sem assunto, mesmo sem dizer nada. Você não precisaria nem sorrir. Eu só queria respirar o mesmo oxigênio que você de novo. A rua está deserta, seríamos só nós dois, certo? E o que mais eu poderia querer do que um tempo só nosso? Nada. Você diria que foi ótimo me ver e sorriria, me dando mais um abraço. Eu te abraçaria forte e sorriria. E antes de você ir, eu te olharia nos olhos, ficaria séria de repente e seguraria seu rosto. Por alguma razão - talvez o costume, a tradição - suas mãos iriam para a minha cintura. Os dois saberiam o que estava pra acontecer, mas nenhum dos dois tomaria iniciativa de início. Você avançaria 90%. Eu avançaria os outros 10% como se você fosse a superfície de um oceano onde eu me afogava. Eu te beijaria com a ansiedade de uma garotinha na puberdade, mas com a intensidade de uma mulher apaixonada. Você me puxaria pra perto. Nada nos interromperia. Em algum ponto, eu pararia, te olharia, nossos olhos guardariam aquele segredo conosco e eu simplesmente iria embora. Sorrindo, é claro. Nada daria errado.

Mas essa coragem dura pouco. Eu continuo te olhando. De repente, você faz menção de virar o corpo na minha direção. Eu viro o rosto, coloco o gorro do casaco, abaixo a cabeça e continuo a andar, mais apressada, torcendo pra que você não me reconheça e não venha falar comigo.

Afinal de contas, o que eu poderia falar pra você?

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