quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Paradox trappa.

Eu vou contar um segredo ou dois que estão me deixando quase doente.

Ter noção das coisas é um lixo. Eu tô com tempo demais pra pensar na vida agora que o Meu Ano acabou, e como diz o ditado, mente vazia é a oficina do Diabo. Não sei se é, mesmo, com toda a convicção atéia que eu tenho, mas eu sei de uma coisa: uma mente sã vira do avesso quando tem tempo consigo mesma. Eu tenho me colocado, consciente e espontaneamente, várias e várias e várias vezes diante de um espelho moral e psicológico que está ferrando minha vida mais do que ajudando. Eu notei que eu tenho consciência demais das coisas que eu gostaria de poder ignorar. Que a ignorância é nojenta, mas a plena noção é maldita. A sensação é que nada do que eu sinto é real, pois eu sei a origem de tudo. E a sensação é de que eu sou muito burra e/ou muito filha da puta pra sofrer tanto com as coisas que eu sofro, visto que eu sei que logo passa e eu consigo colocar em perspectiva.

Tá confuso. Sei disso. Vou tentar explanar: eu sei que é tudo hormonal. Todas as decepções épicas e frustrações helênicas, todas as batalhas que eu travo comigo mesma e com quem me rodeia, todos os corações partidos, as excitações e as tristezas, os pensamentos suicidas e as atitudes autodestrutivas, a preguiça, a vontade, tudo, tudo isso é resultado de dezesseis anos culminando em hormônios e outras coisas que eu tenho até medo de saber. Eu me apaixono e culpo os feromônios, ao invés de culpar a perfeição grega que é o outro. Eu vejo perfeição, eu anseio por ele, eu penso nele dia e noite, eu sou cega pra qualquer outra pessoa: mas eu sei que é ação dos hormônios. "Coisa de adolescente", digo eu, como se tivesse quarenta e cinco anos e planejando a primeira operação de botox. Eu me frustro e culpo os hormônios por ficar tão triste. Eu choro, eu sinto dor física, eu grito, eu me desespero, eu perco o controle, e sei que é por minha culpa; mas quando tudo passar - a adrenalina, a dor, quando as lágrimas secarem - eu vou me sentir patética por ter perdido todo aquele tempo esperneando por algo que eu sabia que seria passageiríssimo, ridículo e insignificante. "Botar em perspectiva" é o que eu mais faço. Não me comparo a outros, claro: aquele papo de "Não chore por um coração partido enquanto tem criancinhas morrendo na África" nunca foi a minha praia, tampouco funciona. Acho que sou insensível demais pra isso. Mas eu paro por alguns segundos e prendo a respiração, cerro os punhos, sinto meu sangue correndo carregado de podridão por todo o corpo, fecho os olhos e penso: "Essa porra não vale a pena. Essa porra vai passar logo. Essa porra não merece teu choro, guria" e simplesmente paro. Paro de chorar, de sofrer, de me magoar e de me importar, simplesmente por saber que é tudo químico. Começo a achar até cômico.

Rir das decepções e das insanidades que me rodeiam está se tornando hábito cotidiano, o que é muito triste, muito prático e muito imbecil.

Eu não quero tirar minha responsabilidade sobre as coisas, não me entendam mal. Eu simplesmente não consigo mais sentir a dor de antes, não consigo gostar de tudo como eu gostava antes; e, ao mesmo tempo, eu nunca fui tão intensa e entregue em toda a minha vida. Parece que a minha vida virou uma função cosseno, e eu estou no ponto mais baixo possível. Eu não consigo mais nem me conectar às pessoas do jeito que eu fazia. Eu me entrego a elas, confio rapidamente, tudo como antes. Porém, hoje, as pessoas vêm com prazos de validade estampados acima dos olhos pra mim. O relacionamento vai acabar e eu sei prever quando, como e por que. Não é a mesma coisa. Não há dúvidas. Não há surpresas. Não há nem decepções, com esses que chegam agora. Eu corto pessoas da minha vida com mais facilidade, porque as cordas que as prendiam aos meus pulsos não são mais tão firmes, nem tão grossas, tampouco tão pesadas. Eu simplesmente as balanço e elas vão saindo, e eu mal percebo. Não sinto falta. Pra mim, está tudo bem. E, ao mesmo tempo, não é egoísmo, pois eu continuo sendo a "irmã mais velha de todos", como sempre fui. É uma escada do paradoxo.

Eu entendo as origens. Eu entendo as dores e as ignoro. O tempo que demora pra você se recuperar de uma decepção é inversamente proporcional à quantidade de vezes que você se decepciona. No meu caso, é uma quantidade colossal. Eu fico triste, eu fico feliz, mas eu não acredito que sejam sentimentos de verdade. Eu me sinto plástica, sintética. Tudo que eu faço é real, mas é frágil demais pra ser real e eu conseguir me apegar por muito tempo. Sempre preciso de um thrill novo, ou eu caio na melancolia de novo. Não quero voltar a ser daquele jeito.

Mas ser racional demais cansa.

Ou, talvez, só talvez, eu seja a mais insana de todos os seres humanos. O que, sinceramente, não seria surpresa pra mim.

3 comentários:

  1. um dos melhores que já li aqui.

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  2. vou contar um segredo também: as vezes volto aqui pra ler este texto. haha não me canso de lê-lo.

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  3. "a ignorância é nojenta, mas a plena noção é maldita" agora eu tbm voltarei para lê-lo

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