quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

9.

Essa porra sobre não querer sentir nada me irrita. Como é que ousam dizer que tudo na vida seria mais fácil se ninguém sentisse nada? Coisa de pré-pubescente mimado, isso sim. Não sabe lidar com as frustrações e decepções que inevitavelmente vêm com as relações humanas e querem, para variar, o caminho mais rápido, mais simples. Porra. Põe a cabeça no lugar, criança: a mente humana é bem mais que isso, você só não sabe. Eu vivo me surpreendendo comigo, acordo de manhã em um dia qualquer aí e antes mesmo de me tocar que estou viva, eu lembro de alguém que costumava ser o centro da minha vida e na manhã daquele dia qualquer significa nada, ou menos que nada, menos de menos. Aí eu tento lembrar como é que essa merda aconteceu e percebo que foi puramente uma combinação de cansaço emocional constante (aquela palavra legal, Haggard) e distrações babacas, qualquer coisa que ocupasse o lócus do meu foco lógico, transformando aquele ser e tudo o que ele representava em memória de longa duração ao invés de curta e, misturando-se aos meus traumas de infância e a matéria de Ciências da sexta série, tornado-se um borrão cinza insignificante num rodapé do meu cérebro. Não sinto orgulho, apesar do efeito ser positivo. Não deixei aquela pessoa para trás por opção, apesar de saber desde sempre que aquela era o melhor pra mim. Não foi minha vontade, por bem ou mal; minha mente fez sozinha um trabalho que deveria ser voluntário. Pondero prós e contras e algumas estatísticas que eu invento na hora, dadas essas novas circunstâncias - ah, a saudade - e planejo o que fazer com essas informações resgatadas do meu subconsciente. Vale a pena tentar buscá-la de volta? Será que eu ainda estou na memória fresca dessa pessoa ou sou eu também um borrão incolor para ela, que provavelmente ainda está adormecida por agora e certamente não sonha comigo? Reduzi-me a isso? Daí vem o Orgulho impondo que é inadmissível que eu não signifique nada para ela. Começam os sussurros de revoluação, o partido vermelho querendo foder aquele sistema tão vulnerável e frágil, criado meio ao acaso; e eu nem abri os olhos ainda. Meio em estado REM, meio alerta, os anjos e demônios de mim despertam e brigam, os fantasmas voltam, o Orgulho briga com a Vaidade e os borrões sharpenizam-se e tomam forma, cor, volume, cheiro, gosto, textura, PORRA! É quase um orgasmo e não são nem nove horas, o despertador não tocou e eu nem sei porque acordei. Vale a pena? Vale, e como, porque saudade dói e o Orgulho sempre ganha, mas acima de tudo, a preguiça. Lembro-me do cansaço, da exaustão psicológica e não quero pagar uma terapeuta gorda chamada Paloma para jogar na minha cara que o ciclo vicioso no qual eu estaria presa daqui a seis anos e doze quilos mais magra foi criado por mim, e não pelo meu subconsciente, que no fim das contas foi meu amante e meu melhor amigo. Viro para o lado e volto a dormir. Às nove horas o despertador finalmente toca e eu já não lembro de nada.

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Seja doce!