quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tryck bort.

Ela jamais gostou de usar reflexos pra justificar qualquer coisa. Mas às vezes é complicado, às vezes é difícil segurar a vontadinha que dá de sentir pena de si mesma, afinal sempre tiveram um apreço especial por jogar tudo nos ombros dela. Ela aguenta. Ela aguenta, vão te dizer, caso tu sejas o primeiro a defendê-la. Ela é aquela musa da música machista implícita, aquela que apanha e pede perdão por isso. Ela é aquela que chora baixinho, sozinha, num quarto, com a luz branca da lua nos seus olhos, enquanto escorrega pela porta, embaraçando o cabelo, deixando a mão soltar sozinha da maçaneta e ali ficando. Ela é a que carrega todos nos ombros, mas ninguém leva nenhum peso dela. Ela não tenta jogar peso para ninguém, mas se tentasse, cairia por terra. Ela não esconde lágrimas porque não faz diferença, ela não chama atenção, ela não manifesta pena, ela não manifesta misericórdia, ela não acorda a piedade dos outros. Não crê mais no carinho dos outros, por isso quando ele a toca ela sente o corpo inteiro recuar automaticamente pois é apenas isso que ela conhece e ela não nota enquanto ele se afasta e ela estende a mão e implora e chora e pede para que ele a toque de novo. E ele a machuca e a fere e a joga e a mata quatro vezes antes da meia-noite e ela não se importa porque acredita, piamente, que é só o que lhe resta, que é só isso que o mundo apresenta. É difícil não se penalizar diante de alguém que vive de joelhos, mas ela tem olhos dissimulados, fechaduras de prostíbulos, mãos magras e venosas demais, uma boca meio pra esquerda que não inspira simpatia e acaba por ser a vilã do próprio melodrama, mas ele gosta dela.

Ela é uma Geni e ele é Jasão e a Bárbara não para de falar no ouvido deles.

3 comentários:

  1. Já li esse texto umas boas 5 vezes, se não mais. É maravilhoso, Audy.

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  2. Guria, que texto maravilhoso! Vontade de guardar n'um potinho. Me identifiquei! <3

    Também escrevo; se puderes dar uma olhadinha, ficaria feliz. http://chantillycious.blogspot.com.br/search/label/texto

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Seja doce!