quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Anteckning.

São três da manhã e eu estou sem sono. Acordei às seis da tarde hoje e duvido que vá conseguir dormir tão cedo. Nenhum dos meus (poucos) amigos está acordado e disponível para falar comigo. De qualquer forma, eu não teria nada de novo para dizer. Subo pra varanda ou deito no sofá? Subo pra varanda pra ver a chuva. Está chovendo há quatro horas agora e não há nenhum sinal de que vá parar tão cedo. Eu queria ter um cigarro agora. Será que sobrou algum? Caminho entre as roupas largadas no caminho, roupas dele, inclusive. Graças aos céus, tem cigarro. Acendo dentro de casa e saio logo pra não deixar meu quarto com cheiro, ele não gosta.

Paro no corredor ao lembrar que não importa mais: ele não vai voltar. Inspiro, expiro, praticamente cuspo a fumaça pra dentro do quarto. Tomara que o cheiro impregne nas cortinas.

Volto pra varanda e começo a pensar em tudo que aconteceu. Por que ele não vai voltar? Onde foi que eu errei? Ou melhor, onde foi que nós erramos? Ou será que só eu errei? Só ele errou? Nenhum dos dois errou? Não entendo mais. Olho para a rua que está sete andares abaixo dos meus pés e sinto uma súbita vontade de abraçá-la. Mas suicídio nunca foi a minha praia. Suicídio é um jeito rápido de morrer, e eu acho que isso é covardia. Prefiro fumar. Ao menos eu morro devagar. De repente me veio a Florence Welch dizendo And I've never felt so alive and so dead.

Meu telefone toca. Eu corro e atendo, óbvio, ainda com o cigarro na boca. Obviamente é ele. Claro que é. Ele fala com a voz grossa e embargada de sempre que me ama. Eu sou uma vagabunda, ele diz, eu sou a pior vagabunda que ele já conheceu, mas ele me ama. Pergunto se ele quer vir aqui, pra nós conversarmos. Ele diz que nunca mais vai me ver e desliga antes de terminar a última palavra. Eu suspiro e percebo que realmente acabou. Eu nos conheço, eu sei que esse foi o último puxão do elástico. Arrebentamos. Forçamos demais e agora acabou a brincadeira. Acabou tudo. Largo o cigarro; não vejo mais sentido em morrer devagar. Suspiro, inspiro, expiro. Já estava na hora de tudo perder o sentido.

Corro, pulo, sinto o vento correr forte no meu rosto. Ele limpa uma lágrima que estava caindo. Sorrio e abraço o asfalto molhado. A chuva para. Tudo acaba.

Um comentário:

  1. A tua escrita é tão fluída, deus. Ela arrebenta, como se viesse duma vez, tipo vômito, mas sem a ânsia desagradável do início.

    ResponderExcluir

Seja doce!