quinta-feira, 27 de março de 2014

Tala inte om vad du heter.

Não me olha. Se eu pudesse pedir só uma coisa, seria pra que tu parasse agora de me olhar. Eu sinto teus olhos na minha nuca até quando tu não estás aqui, então não me olha. Não tô preparada pra esse tipo de olhar. Não aguento o peso, a responsabilidade de ser dona desses olhos que mais parecem mil.

Não me olha, não me olha nos olhos, não me olha nos ombros, não me olha na boca. Não respira em mim, não respira por perto. Tua respiração parece sugar a minha. Não vou dizer que me sinto como se estivesse me afogando, porque é mais que isso, é mais complexo que isso. Eu me sinto presa num quarto de cristal lentamente enchendo de uma água grossa, morna. A tensão aumenta, a água alcança os meus joelhos e eles amolecem. A tensão aumenta, a água alcança minha barriga e a esfria. A tensão aumenta, a água alcança meu peito e meu coração acelera. Aí tu me olhas, quando a água já está no meu pescoço e eu estou sofrendo pra respirar, e tudo se esvazia.

Não é justo.

Tira os olhos de mim, que eu não pedi pra ter esses olhos cansados castanhos castigados castos em mim. Não pedi por esses olhos, não pedi pelo ar perdido, não pedi pelas minhas mãos trêmulas e meus impulsos brigando dentro de mim, não pedi pela dúvida. O que eu mais gosto nessa vida é certeza, é ser, estar, sentir, exercer razão. A certeza é o meu êxtase e tudo que eu faço é correr atrás de dúvidas, só pra sentir o tesão louco de desvendá-las. Mas isso é só meu achismo corriqueiro. Eu estou aqui pra reclamar dos teus olhos fundos ridículos, dos meus sonhos e das minhas mãos.

É simples o que eu peço: tira os olhos de mim. Não me deixa ouvir tua voz, me deixa te olhar em paz, me deixa ficar perto com o coração na mão e a respiração travada, me deixa.

Não pedi pelos teus olhos em mim, mas agradeço por tê-los me dado.

Eu prefiro mentir a rejeitar esses olhos.

13 comentários:

  1. não me senti por um instante. tua escrita é linda.

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  2. maravilhoso é eufemismo, nossa.

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  3. fazia tempo que eu não vinha aqui... e puta que pariu que texto!!!! fazia muito tempo que não lia algo assim tão bonito e poético sabe, é muito bom sentir as palavras e você tá cada vez melhor. Você... eu não sei nem o que dizer sobre você... Tomara que você tenha muito sucesso, tomara que dê tudo certo pra você e que eu possa ler mais texto seu.

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  4. Você é Audrey do Ausarten, certo? Eu pesquisei um trecho do seu texto (Vogue - meu favorito ♥) e vim parar aqui! Ai que saudades da tua escrita. Vou separar um tempo pra ler tudo o que não li!
    Ps: Quem fez o cabeçalho do ausarten? Caramba, eu amo aquele tanto aquele cabeçalho. :(

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    1. Sou eu sim! Que bom que tu me achaste e que bom que resolveu ler o resto. Esse texto é antigo!
      Fui eu quem fiz, mesmo =^-^=

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    2. Você passaria suas redes sociais? Eu queria pedir algo... me desculpe se for muito audacioso da minha parte, mas você ainda vai utilizar o cabeçalho do outro blog? Eu poderia usá-lo no meu blog? Com seus direitos autorais, claro.

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    3. Ué, mas pra que queres minhas redes sociais se acabaste de pedir por aqui mesmo? haha eu preferia que tu não usaste.

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    4. Ah, tudo bem! Obrigada por me responder, de qualquer forma. :)

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  5. Sou nova follower e tô comentando aqui pra deixar amor e você não sentir mais falta. Coisa linda de ler, de sentir.

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  6. adoro todos os seus textos e o novo banner esta lindo!

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  7. Lindissímo! Teus textos me deixam tremula e com um sorrisinho no rosto ao mesmo tempo.

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  8. Maravilhouuuso!

    Textos incríveis!

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  9. cara, que texto MARAVILHOSO. puta que pariu.

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